Limeira, Julho 2010
Após um dia repleto de atividades, cheio de trabalho com novas conquistas e alguns pontos que podem ser melhorados, assim foi o término de mais um dia de trabalho.
O dia foi muito corrido, cheio de vendas e cotações a fazer.
A caminho da faculdade, segui o meu trajeto normalmente. Tomei o primeiro dos dois ônibus, com destino aos estudos; deparo-me com a superlotação, na qual me camuflo em meio a tantos que experimentam a mesma sensação que eu: Dever cumprido, mais um dia de trabalho chega ao fim.
Cada um em seu íntimo imagina como será a continuidade daquilo que ainda resta do dia: Ali sentada no primeiro banco observo àquela senhora que possivelmente ainda terá de cuidar de sua família. “Roupa pra lavar, comida a fazer...”. Ou aquele executivo que já afrouxou sua gravata, e espera ansiosamente o regresso a sua casa, para desfrutar momentos de alegria com seu filho, que aprendera a dizer suas primeiras palavras: “Papa... que palavras mágicas... não vejo a hora de ver meu campeão”.
Ainda observando, pode-se ver o rosto cansado de alguns, esperança em outros, e dividindo meu fardo ao ver que não sou o único que terei uma segunda jornada, após o trabalho.
À descida do primeiro ônibus, deparo-me com mais tumultos onde tantas pessoas tomam rumos diferentes, e muitos detalhes passam despercebidos. O suor e o cansaço, a energia que vai se esgotando pouco a pouco, do mesmo modo com que o sol vai se escondendo, dando lugar à noite escura.
Em muitas esquinas pode-se notar que para alguns o trabalho se inicia ali. A escuridão revela maneiras inusitadas de ganhar a vida. Uma senhora ali parada em uma esquina, que desperta repugnância em alguns, imagina em seu interior, o quanto gostaria de estar com seus filhos, embalando-os a dormir. Uma lágrima oculta e um sorriso imposto faz com que ela siga em frente, para levar o sustento à sua casa, mesmo que isso custe sua dignidade.
O que realmente me chamou atenção foi o que encontrei na esquina seguinte, um senhor de meia idade, sentado ao chão, revirando um saco de lixo e se alimentando dos dejetos ali depositados.
Meu coração simplesmente paralisou-se diante daquela cena, foi como se o mundo todo se resumia aquele momento. Não consegui sentir outro sentimento se não o de compaixão; via-me o homem menor diante daquilo que eu nunca havia visto, meu coração gritava ao ver tal cena, clamando através daquele senhor, que eu fizesse algo. Foi quando ofereci a ele o que eu tinha para meu lanche que iria tomar na faculdade.
Sempre que olhamos ao fundo dos olhos das pessoas, podemos enxergar um pouco do que aquele ser guarda em seu íntimo; o brilho dos olhos pode denunciar aquilo que não se pode ver claramente. Pude ver naquele instante o quanto aquele humilde senhor sofria.
Já se acostumara àquela rotina, e pareceu-lhe uma ofensa voltar meus olhos a ele e lhe oferecer algo. Com seu coração habituado à indiferença ele tomou uma atitude que a princípio não compreendi. Ele se negou a receber aquilo que eu lhe ofertava.
O sofrimento feriu seu coração e o orgulho tomou conta, fazendo endurecê-lo.
Acredito que se ele fosse percebido antes, haveria tempo de querer ser ajudado. É preciso olhar além do que se vê. Perceber o que está a nossa volta, olhando aos detalhes, dando um rumo diferente a esses destinos que pode ser traçados de uma maneira diferente, através do nosso olha.
O Ser que sente, precisa ser sentido.